Quase
nunca se fala de amor como deveria. O assunto é polêmico na tradição do
pensamento clássico. É obscuro. Para os renascentistas franceses, o amor é na
medida que falamos dele.
Mas há diversas faces do amor. Até o
egoísmo é uma espécie de amor: é o amor de si. Portanto, como lidar com esta
questão? Há tempos vimos trabalhando dentro de nós a seguinte interrogação: “amar é se apegar e se apegar é sofrer.
Nessas condições como conceber um amor feliz?”.
Amar é poder desfrutar ou regozijar-se de
algo ou de alguém. É portanto também sofrer, já que prazer e alegria dependem
aqui, por definição, de um objeto exterior, que pode estar presente ou ausente,
dar-se ou recusar-se.
“Em
relação a um objeto que não é amado, nenhuma querela nascerá; não sentiremos
tristeza se vier a perecer, nem ciúme se cair em mãos de outro, nem temor, nem
ódio, nem perturbação da alma...” (Baruc Espinosa).
Segundo o próprio Espinosa não se
pode viver sem amor.É o amor que faz
viver. “Em razão da fragilidade de nossa
natureza, sem algo de que gozemos, a que
estejamos unidos e por que sejamos fortalecidos, não poderíamos existir”.
Mas o que é o amor. Mais uma vez
Espinosa: “O amor é uma alegria
acompanhada da ideia de uma causa exterior”.
Na tradição clássica há dois tipos de
amor. O primeiro é a alegria de amar “philia”. Em Aristóteles – “amar é regozijar-se”. A palavra “philia” é rotineiramente traduzida
por amizade. É o amor da troca. O segundo tipo de amor é a falta, a frustração:
“O
que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do amor” –
Platão – (eros).
O amor eros é o amor da falta. É preciso
amar o que não temos, e sofrer com essa falta; ou então ter o que não falta
mais e que por isso amamos cada vez menos, já que só sabemos amar o que falta.
Ou então, se ama na ação: sinto-me feliz porque existes. É uma refutação
espinosana ao platonismo.
O amor philia é a partilha. A mãe que dá
o seio ao filho. É o sentimento que transforma em alegria o compartilhar.