segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sobre o Amor...


Quase nunca se fala de amor como deveria. O assunto é polêmico na tradição do pensamento clássico. É obscuro. Para os renascentistas franceses, o amor é na medida que falamos dele.

Mas há diversas faces do amor. Até o egoísmo é uma espécie de amor: é o amor de si. Portanto, como lidar com esta questão? Há tempos vimos trabalhando dentro de nós a seguinte interrogação: “amar é se apegar e se apegar é sofrer. Nessas condições como conceber um amor feliz?”.

Amar é poder desfrutar ou regozijar-se de algo ou de alguém. É portanto também sofrer, já que prazer e alegria dependem aqui, por definição, de um objeto exterior, que pode estar presente ou ausente, dar-se ou recusar-se.

Em relação a um objeto que não é amado, nenhuma querela nascerá; não sentiremos tristeza se vier a perecer, nem ciúme se cair em mãos de outro, nem temor, nem ódio, nem perturbação da alma...” (Baruc Espinosa).
Segundo o próprio Espinosa não se pode viver sem  amor.É o amor que faz viver. “Em razão da fragilidade de nossa natureza, sem algo de que gozemos, a que  estejamos unidos e por que sejamos fortalecidos, não poderíamos existir”.

Mas o que é o amor. Mais uma vez Espinosa: “O amor é uma alegria acompanhada da ideia de uma causa exterior”.

Na tradição clássica há dois tipos de amor. O primeiro é a alegria de amar “philia”. Em Aristóteles – “amar é regozijar-se”.  A palavra “philia” é rotineiramente traduzida por amizade. É o amor da troca. O segundo tipo de amor é a falta, a frustração:  O que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do amor” – Platão – (eros).

O amor eros é o amor da falta. É preciso amar o que não temos, e sofrer com essa falta; ou então ter o que não falta mais e que por isso amamos cada vez menos, já que só sabemos amar o que falta. Ou então, se ama na ação: sinto-me feliz porque existes. É uma refutação espinosana ao platonismo.

O amor philia é a partilha. A mãe que dá o seio ao filho. É o sentimento que transforma em alegria o compartilhar.