sexta-feira, 23 de agosto de 2013

...AGORA SE CHAMA SAUDADE!

Está escrito por um provérbio hindu que os grandes sonhos nascem dos desejos realizados quase sem querer. No entanto, para possuir um grande sonho é necessário desejar bastante, com a força das coisas que não podem ser vistas; apenas sentidas.
Foi com essa força que, um dia, na calma de um belo jardim nasceu uma flor enigmática. Era enigmática porque não tinha nome. As cores de suas pétalas eram diversas e capazes de encantar mesmo os olhos mais desapercebidos. Ela sabia que era diferente. Isso lha trazia uma tristeza inefável. Sua beleza diferente era capaz de revelar-lhe que um dia, mais cedo ou mais tarde, poderia torná-la triste.
Beleza diferente faz pensar. E pensar é atitude de quem ama. Mesmo que seja um amor próprio. O amor faz pensar; asa vezes isso ocorre depois do amor. Neste caso, o amor faz pensar e sofrer. Mas a flor de beleza diferente passou a pensar em algo que pudesse vencer sua tristeza. Um grande amor! A eternidade!
Aos poucos passou a desejar a eternidade. Sabia que se pudesse ser eterna, sua beleza deixaria de ser efêmera, e com isso, o medo da partida, que assola todas as flores que sabem ser tão belas quanto frágeis, deixaria de existir. Quem deseja a eternidade tem gostos estranhos e passar a ver as coisas que ninguém mais vê. A flor, por exemplo, era capaz de enxergar o mar de dentro do jardim. O mar é lugar do desconhecido, do medo, da solidão, que se torna companhia. Desejava a eternidade, por isso amava o mar e seus mistérios.
De tanto desejar a eternidade, a flor resolveu levar seu pedido ao criador. No mundo das flores, Deus é uma grande flor, com cores sedutoras, mas de beleza infinita. Isso faz a diferença. Quando o criador ouviu o pedido daquela pretensiosa flor entristecida pela possibilidade do amanhã, prometeu pensar no assunto. Aí já estava uma amostra de que o criador era um ser apaixonado. O amor faz pensar. Só pensamos em quem amamos.
Após muito pensar como carinho da ausência no pedido da flor, o criador resolveu atendê-lo.

-“Para que você seja eterna, é preciso que não habite mais os jardins. Os jardins são belos justamente porque as flores são frágeis. “Hoje brilham e amanhã encantam os olhos com a beleza do adeus, disse o criador, ensinando que há belezas que são sedutoras justamente porque um dia terminam. – Para ser belo e eterno será preciso descobrir que a verdadeira beleza está na distância e na certeza que ela produz de que mesmo longe haverá alguém a morar nos sonhos de outra pessoa. Vou transformá-la numa estrela. Assim, todos poderão olhar para o céu e saber que você estará lá, mesmo quando não puder ser vista. “Amar sem poder ser visto ou tocado é o segredo da eternidade”.

Se esse era o preço da eternidade, a flor resolveu aceitar. Agora ela era uma estrela. Habitava o céu, e, às vezes, olhava com a ternura da ausência seu jardim de beleza passageira. Mas sabia que era eterna. Suas cores vibrariam para sempre. Os apaixonados poderiam olhá-la, descobrindo que há um amor que é eterno.
Mas ainda faltava uma coisa. Precisava de um nome. O nome é uma palavra mágica, que, quando pronunciada, evoca espíritos agitadores no interior das pessoas. Ninguém fica indiferente ao nome. Ele faz amar ou traz a revolta. Quem é eterno precisa de um nome.
Foi por isso que a flor/estrela, que acabara de descobrir a eternidade, foi novamente ao criador. Agora, para pedir um nome. E o criador mais uma vez prometeu pensar. Com isso, o criador ensinava em gestos silenciosos que o amor só faz aumentar. Quem pensa uma vez pensa outra e outras tantas mais que forem necessárias.
Resolveu atender. Daria à flor/estrela um nome que quando pronunciado evocaria mistérios e paixões. Algumas culturas seriam incapazes de resumir este nome em uma só palavra. Inventariam canções, falariam de amor, regariam com lágrimas sua expressão. A flor/estrela ganharia um nome que fosse capaz de transformar os ouvidos que o compreendessem. O criador resolveu chamá-la de saudade.
É possível que ao olhar para o céu você encontre a sua estrela/saudade. Ela estará lá, mesmo que não possa vê-la. É bom saber que ela existe, com sedução eterna, solidão que faz companhia, amor que não se diz em palavras e uma beleza que se expressa para sempre, mesmo que seja nas cores do adeus. Ela estará lá!
Paulo Roberto Pedrozo Rocha

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A Estranha Beleza do Adeus.

Você já visitou o seu passado? É sério, aliás o nosso passado é coisa séria, que mexe com a gente e raras vezes consegue arrancar um sorriso. Por melhores que tenham sido nossos dias, quando revivemos nosso passado, ele sempre vem na forma da dor.

Isso revela nossa dificuldade em lidar com a saudade. Alguns têm saudades de pessoas, outros de lugares ou figuras. Alguns teólogos modernos (será que existem teólogos modernos ou a teologia é coisa do passado?) dizem que é possível, ou melhor, é preciso sentir saudades de Deus.

A propósito, sentimos saudade ou saudades?

O dicionário define saudade como “lembrança de um bem passado, nostalgia”. Para saudades: “lembranças que se dirigem a pessoa ausente”. Que bom, mais uma vez as palavras brincam com nossos sentimentos.

Gosto de lembrar que fomos feitos no plural. Nosso Deus não quis estar só ao gerar o ser humano: “Façamos o homem...(Gn 1:26)”. Sentimos saudades de algo que gostamos, e saudades de quem amamos. Quando falamos de pessoas, falamos no plural.

Aprendemos que não podemos viver de saudade, mas que devemos viver com saudades. Isso tudo aprendemos através da magia das palavras.

Assim, quem vive com saudades sabe valorizar um adeus e logo transformá-lo num desejo de voltar. E descobre que o adeus também é belo. Belo porque deixa saudades!

Você tem saudades?