Quando Rousseau
escrevia a Voltaire, em 1756, a “Carta sobre a Providência”, descrevia da
seguinte forma sua relação com a
poesia: “...não vos direi que tudo me
parece igualmente bom; mas as coisas que me desagradam nos poemas só aumentam a
minha confiança naquelas que me extasiam...”. Para Rousseau, a poesia tinha
efeitos mágicos de agradar mesmo quando o texto era passível de algum desprezo.
Na poesia a singeleza do que é belo supera em muito a deficiência do que não
pode ser compreendido.
Difícil
lição que está diante dos olhos. Apaixonar-se de tal modo que a beleza supere
em muito a incompreensão. Não é assim que acontece no mundo das coisas
sensíveis. O que nos desagrada supera em muito as virtudes. Algumas pessoas são
lembradas por seus defeitos, mesmo que pequenos, mas sempre marcantes. O
segredo está em tornar pessoas iguais a poesias.
Para
imaginar é fácil: quem sabe fosse possível fazer uma poção. O que você
colocaria numa poção que quisesse tornar pessoas em poesias? É claro que a
fórmula irá variar de caso a caso, mas não custa tentar.
Uma
pitada de simplicidade. Poesia para ser poesia tem que ser simples. As
complicadas equações não conhecem o sabor do poético. A fórmula levaria também
uma despretensiosa quantidade de verdade. Ninguém se pergunta sobre a verdade
de uma poesia: ela é bela e pronto. Pessoas que detém o dom da certeza da
verdade terão dificuldades em beber desta fórmula; a certeza da verdade é o
antídoto da poesia.
Poções
mágicas têm que ter sabor. O efeito por si só não é suficiente. O sabor tem que
ser agradável pois a magia tem que chegar primeiro nos lábios, é como o amor
que tem nos lábios o caminho para o coração. Na poção da poesia o sabor pode
ser qualquer um, desde é claro que não seja “diet”. A poesia não admite
sacrifícios.
Depois
de tudo pronto chega a hora de descobrir se é eficaz. O mago que manipula a
poção poética tem que se reconhecer nela. Ao olhar para o fundo do copo tem que
ver seu rosto refletido. A poesia é o desejo do reflexo do rosto de quem
escreve no coração de quem lê. Esta é a fórmula da magia poética.
Finalmente
está tudo terminado. A poção deve ser oferecida a quem desejamos tornar o ser
em poesia. Após o último gole o resultado não pode ser outro: nenhuma
alteração. Quem bebe fica exatamente como estava antes.
Este
é o último segredo: a poesia é a arte de fazer descobrir no outro a beleza de
ser como ele é. Quem quer mudar alguém não faz poesia mas sim bruxaria. A
poesia é o encantamento constante que se dá com quem amamos. Não é à toa que os
escritores sagrados usaram a poesia para fazer teologia. Isso é teologia:
compreender Deus em sua beleza natural.
A
poção poética só faz efeito nos olhos de quem a prepara. Aspira seu cheiro,
respira esperança, mexe os ingredientes durante o sonho. A poção poética revela
o lado gostoso do ditado que diz que “o feitiço virou contra o feiticeiro”.