sexta-feira, 1 de novembro de 2013

QUE A MORTE SEJA TÃO BELA E VIVA QUANTO A POESIA

A morte exerce um certo fascínio nas pessoas. Ela faz um misto de medo com a expectativa de um final glorioso. Não por acaso, milhares de pessoas celebram o dia de finados. Curioso que os seres humanos tenham “um dia para a morte”.

No entanto, lidar com a morte não é uma das especialidades humanas. Ninguém está preparado para morrer! Por maiores que sejam as evidências, haverá sempre um componente de surpresa diante da morte. Talvez, porque a morte seja uma sublime desconhecida.

A psicanálise diz que há um princípio de morte entre os vivos. É chamado de “tánatos” e ocorre sempre que as pessoas mergulham na ansiedade do dia a dia e passam a viver na expectativa de partir.

Podemos concluir que morte e ansiedade andam juntas. Lembro-me de ter lido um conto de Gabriel Garcia Márquez, cujo nome não consigo recordar, mas que contava a história de um homem que alcançara o elixir da vida eterna, tornando-se isento da morte.

Assistia gerações inteiras que passavam por ele, sem que sequer ele pudesse envelhecer. A monotonia logo tomou conta de seus dias e o eterno vivia com a ansiedade de um dia poder quebrar e por fim descansar.

Mesmo assim, se dependesse dele, o homem não teria inventado a morte. É que ela traz consigo a separação para a qual nunca estaremos preparados. Um dos atrativos maiores do cristianismo, desde os primeiros séculos, foi a ressurreição do corpo. A possibilidade de vencer a morte sem ter que lançar mão da ansiedade.

Acredito que todos nós, pelo menos uma vez, já tenhamos desejado a morte. O espírito do “tánatos” certamente já fez uma visita a cada um. Daí sabermos que há pelo menos dois tipos de morte: a morte desejada e a morte compartilhada.

É que a morte ocupa um lugar em nossa vida. O que poderia parecer um paradoxo é na verdade a mais pura realidade. Como no poema de João Cabral de Mello Neto, “Morte e Vida Severina”: “... aqui se morre um pouquinho por dia”.

Desejamos a morte quando o amor não é mais possível. A sabedoria de Eclesiastes nos ensina que “o amor é mais forte do que a morte”. Assim, quando não há amor o melhor que se tem a fazer é morrer! Nasce, então, a morte desejada e o “tánatos” deixa de ser um impulso e passa a fazer parte do centro da vida.

A morte deixa saudades. Quem quer morrer na verdade está com saudades de si mesmo. Quem tem muita saudade, a ponto de não mais conter dentro de si, passa a compartilhá-la com os outros. Vive a morte compartilhada.

Ao ler este texto certamente você poderá estar procurando descobrir com espanto que tipo de morto você é! Mas o espanto não se justifica porque a morte é coisa muito bela, natureza de poeta que só os versos podem expressar. 

É preciso falar da morte porque quem despreza a morte acaba por esquecer a vida. Neste caso será preciso que inventem um "dia dos vivos". Porque os finados serão celebrados em todos os outros dias do ano.

É isso!