domingo, 9 de junho de 2013

É Ausência e Ponto!

Vivemos tempos de algumas incertezas. Perdemos muitas vezes nossos valores na busca da construção de alguns ideais. Quase sempre estamos envolvidos em grandes projetos, nos preocupamos com grandes coisas e acabamos por esquecer a beleza e simplicidade que residem nos pequenos gestos e nas formas mais frágeis da vida!

Se aproxima o dia dos namorados! Certamente será lembrado por muita gente ou propositadamente esquecido por outros! Será que esquecer de propósito não é também uma forma de lembrar?

Nada mais terrível que o silêncio em resposta a uma pergunta. O vazio que o silêncio evoca quando nosso desejo aponta para uma palavra-resposta é quase sempre avassalador. O vazio do silêncio é o símbolo de um desejo frustrado. O silêncio só é bom quando é desejado, mas, aí deixa de ser silêncio e passa a ser uma fala interior.

Ausência. Ausência também é uma forma de amor! É como um ponto que marca um fim de período. Aliás um ponto pode significar muitas coisas: numa frase pode ser o fim de um período ou também um sinal que uma fala por ele interrompida irá recomeçar imediatamente! Gosto de pontos. Gosto de coisas que podem significar outras além delas próprias.

Mas falava de ausência. Para amar é preciso sentir ausência, é preciso que se saiba que quem amamos faz falta. A saudade é uma dor necessária porque ela aponta justamente para a ausência. Saudade é ausência e ponto.

Contudo ausência não é um mero vazio. Qualquer um poderá notar que algo mora na ausência: seja uma imagem, um vulto, cores ou um desejo. Ausência só existe para lembrar que o que nossa memória chama de ausência não pode desaparecer. É infinito. Só sentimos ausência do que amamos. Na ausência amamos e ponto.

Mas mesmo assim há um desafio: sentir ausência sem dor. Deste fato nunca tive notícia, porque acredito que a ausência seja o lado dolorido do amor. Ausências são pontos de dor, que calam forte, não medem distâncias, desconhecem palavras e a que não se pode por um ponto, não porque seja impossível ver seu final, mas porque se tem medo de que comece de novo. E ponto!...

sábado, 1 de junho de 2013

Sobre Criar e Desejar...

Há nas narrativas da criação, encontradas nos capítulos iniciais do livro do Gênesis, algo de especial. Algo que está além da compreensão empreendida pela razão, capaz de simular na própria fé um dado novo.

Lemos nos textos que há oito obras da criação, divididas em seis dias de trabalho. Mas logo no início há um detalhe especial: "No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra porém era sem forma e vazia e havia trevas sobre a face do abismo. O Espírito de Deus pairava sobre as águas."

O vazio informe, o espírito que pairava sobre o caos, o desenho espelhado de um Deus que brinca com este vazio, sua imagem...coisas que produzem um silêncio aterrorizante.

Pairar, voar vagarosamente. O Espírito de Deus brincava com o silêncio inicial. Era o primeiro gesto da criação, que não estava medido em dias, estava além do tempo.

Uma palavra rompe o silêncio. "E disse Deus: haja luz. E houve luz." A palavra passa a criar. Há uma íntima relação entre a palavra e a ação criadora de Deus. Tudo se faz pela palavra e sem ela nada do que foi feito se fez.

Assim como um poema é mais do que a beleza de sua estilística, a criação é mais do que a simples beleza da forma: o poema para ser de fato poesia precisa transmitir o sentimento,  é preciso que ninguém fique indiferente após ouvi-las.

O texto poético da criação reserva ainda outra curiosidade: enquanto as trevas mencionadas no início não passam de contraposição à luz, os astros vêm demonstrar que há a luz da noite, ou seja, que mesmo em meio à noite é possível orientar-se.