Há nas narrativas da criação, encontradas nos
capítulos iniciais do livro do Gênesis, algo de especial. Algo que está além da
compreensão empreendida pela razão, capaz de simular na própria fé um dado
novo.
Lemos nos textos que há oito obras da criação,
divididas em seis dias de trabalho. Mas logo no início há um detalhe
especial: "No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra
porém era sem forma e vazia e havia trevas sobre a face do abismo. O Espírito
de Deus pairava sobre as águas."
O vazio informe, o espírito que pairava sobre o
caos, o desenho espelhado de um Deus que brinca com este vazio, sua
imagem...coisas que produzem um silêncio aterrorizante.
Pairar, voar vagarosamente. O Espírito de Deus
brincava com o silêncio inicial. Era o primeiro gesto da criação, que não
estava medido em dias, estava além do tempo.
Uma palavra rompe o silêncio. "E
disse Deus: haja luz. E houve luz." A palavra passa a criar. Há
uma íntima relação entre a palavra e a ação criadora de Deus. Tudo se faz pela
palavra e sem ela nada do que foi feito se fez.
Assim como um poema é mais do que a beleza de
sua estilística, a criação é mais do que a simples beleza da forma: o poema
para ser de fato poesia precisa transmitir o sentimento, é preciso que ninguém fique indiferente após
ouvi-las.
O texto poético da criação reserva ainda outra
curiosidade: enquanto as trevas mencionadas no início não passam de
contraposição à luz, os astros vêm demonstrar que há a luz da noite, ou seja,
que mesmo em meio à noite é possível orientar-se.